INTERFACE ENTRE TRANSTORNOS EMOCIONAIS E ESPIRITUALIDADE EM MISSIONÁRIOS TRANSCULTURAIS
Exatamente como são, com demandas, desafios, emoções, história, pontos fortes e fracos, não sendo super-homens — sendo homens —, não sendo supermulheres — sendo mulheres — e obedecendo a um chamado irreprimível, eles deixam familiares, amigos, igreja local, cultura e se entregam a uma tarefa divina, enfrentando grandes tensões como adaptação à nova cultura, o contato com a pobreza e violência, a pressão por resultados e estressores fortíssimos em países distantes, muitas vezes inimagináveis, colocando-os em situação de vulnerabilidade para problemas de saúde, principalmente mental.
Não raras vezes, depois de anos de sonhos, preparo, levantamento de sustento, investimento de tempo e expectativas, missionários de diferentes igrejas e agências veem seus sonhos se estilhaçarem ao longo do caminho e, como vozes que clamam do deserto da alma, em profunda angústia e exaustão, retornam do campo abatidos e com necessidade de acolhimento e restauração.
Por isso, pensando justamente nesse grupo valoroso e pouco estudado que, como psicólogo, pesquisador e agente do Cuidado Integral de missionários e pastores que sou, em minha prática clínica, observei a ocorrência de sintomas de transtornos psiquiátricos e alto nível de estresse e burnout e propus-me a investigá-los como parte de minha tese de doutorado com concentração em Psiquiatria, apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com o título A prevalência de sintomas de transtornos psiquiátricos em missionários evangélicos/protestantes transculturais brasileiros, propus-me a investigá-los.
